GRAVATA RIMA COM BORBOLETA?

Criei este blog em 2020, no auge da pandemia Covid-19. Naquele momento, era um instrumento de protesto contra a direção do condomínio, que planejava demitir os funcionários do prédio. Aquilo me parecia então uma dose extra e inaceitável de desumanidade.

Deu certo. Ninguém perdeu o emprego. Mas é claro que por trás também existia o meu desejo pessoal de manter a lucidez, durante mais de dois anos em que estive literalmente aprisionada dentro de casa.

Bingo. Aprendi a manipular o Word Press, a considerar (ou não) os macetes CEO de inclusão dos textos no mundo dos algoritmos de busca. De resto, já trabalhei em plataformas publisher na criação do Universo Online. Sabia algo a respeito.

Minha vida aprisionada no prédio, literal e metaforicamente, acabou me aproximando de meus companheiros de jornada, meus vizinhos, funcionários ou não. Sabiás, pica-paus, tipuana, gaviões, borboletas passavam pela minha janela.

As mulheres deixaram os cabelos brancos, abandonaram os esmaltes de cores gritantes (só Ana Maria Braga não percebeu). O planeta está acima do peso. Ninguém entra nas lojas de shopping como antes.

E meus vizinhos amados se foram. Primeiro, foi minha amiga Rosa Whitaker, do 309. Não foi pandemia. Ela morreu em 2022. E neste final de ano, em novembro, foi a vez de Antonio Moucachen, 101 anos.

Até que tentei escrever depois disso. Mas não encontro assunto. Vejam meus últimos posts: “Horror atrás das legendas”, sobre o conflito com o Hamas em Israel; ou “Pesadelos na Síria e Tibete”, que trata de destruições cinquentenárias que persistem.

Os Rolling Stones? Caramba…Paul McCartney veio aos 80 ao Brasil. Sinéad O’Connor enterrou o filho e foi junto, depois de meio século de luta pela saúde mental.

A pandemia acabou, só me resta escolher um caminho: ou volto para as ruas, ou fecho a lojinha de vez. Escrever semanalmente, não dá mais. Para meus queridos leitores, é um bye. Eu fiquei sem assunto. Sei lá se é tristeza, desânimo, mas acho que vai passar.

Vamos combinar…Se uma borboleta aparecer no jardim do Tijolinho, eu venho contar, ok?

DELICADEZA EM VIVER OU DEIXAR PARA TRÁS

Hoje fui pela manhã dizer adeus ao doutor Antonio Moucachen, que nos deixou na madrugada de sexta-feira. É o morador original do apartamento 808, que comprou ainda na planta. Também é referência de elegância, gentileza e bondade.

Completou 101 anos.

Todas as manhãs, rezava pela esposa Helena, que o deixara oito anos atrás, em 2015. Na foto principal (acima), são o casal à direita. Depois, vinham as manias diárias, o WhatsApp e o jogo de gamão.

Descobri que eu era apenas uma das signatárias de seu cumprimento de todas as manhãs, no WhatsApp: afinal, muitos alguéns conheciam a frase “bom dia, que belo dia”, que estava estampada em uma coroa de flores. Mas faltaram os emojis 🤓💕.

Tá certo que não fica bem estampar emojis do WhatsApp numa coroa de velório, mas é que não havia muita tristeza, pompa ou circunstância, nunca existiram, em volta do célebre cirurgião dentista, professor emérito da Faculdade de Odontologia da USP.

Dr. Antonio se desfez em vida de qualquer referência a peso extra na bagagem. Integrou grupos de cientistas e em inúmeras jornadas governamentais no exterior. Conheceu o mundo todo, “menos China e Austrália.”, dizia.

Nasceu há um século, em Damasco, capital da Síria. Quando chegou ao Brasil, a família de Antônio, ele o caçula de três irmãos, e seus pais, fixaram-se em Itapetininga, a 180 km de São Paulo. Lá, conheceu sua esposa, Helena, mãe de seus sete filhos.

De todas as viagens, a que lembrava com carinho foi a oportunidade de um encontro e conversa em Paris, França. Todo banco de jardim era uma oportunidade de comentar o noticiário ou conhecer o próximo, em qualquer lugar do mundo.

Atento, desenvolveu o hábito de trazer balas no bolso quando voltava do trabalho nos anos 2000, vindo do consultório da av. Paulista. É que a criançada sabia quando ele chegaria. “Tá na hora do vovô das balinhas”, esperavam.

Numa de nossas últimas conversas, relembrou uma época em que todo sábado à noite costumava levar a esposa Helena, que era professora, e os sete filhos a uma pizzaria, onde todos tomavam Coca Cola. “A pizzaria inteira olhava para a gente, uma festa, a mesa comprida…” Em vida, Moucachen colecionou 11 netos e 7 bisnetos.

E a brisa nos fins de manhã paulistana, o ar cada vez mais quente que roçava o rosto bronzeado e que o fazia fechar os olhos: “que delícia”, dizia.

Compromisso de manter a mesma elegância, doçura e bondade pela vida afora. E perceber o vento no rosto até o fim.

AMIGOS MORREM CEDO DEMAIS

A morte do ator Matthew Perry repercutiu muito entre quem cresceu e virou adulto durante os anos 90 do século passado, época em que foi apresentado o sitcom Friends . Ele interpretava Chandler, um dos amigos do título, e sua morte precoce, aos 54 anos, tem ingredientes para chocar seus pares. De resto, a notícia chocou também pela relação particular do seriado com o seu público.

Se você viver o suficiente, o que pelos meus cálculos recentes é ultrapassar os 60, terá inúmeras vezes a sensação de que algo está fora do lugar: de alguma forma, chega a notícia de que um amigo da sua juventude morreu.

De uma década para cá, dá para pensar a respeito. Nada parecido com…Friends afinal jamais teve a intenção de ensinar ninguém sobre a vida e a morte. Para seu crédito, o seriado nunca se levou a sério.

Sua importância foi registrar uma fase da chamada Geração X em fase intermediária. Morar sozinho e confraternizar com amigos antecede a formação de arranjos familiares.

Na vida real, sem roteiro definido, a morte precoce de meus pares no planeta invariavelmente esteve relacionada a cigarro, e não preciso do apoio estatístico para afirmar isso.

Lembro de uma conversa numa mesa de bar com a jornalista Inês Knaut, com quem trabalhei no final dos anos 80 na sucursal do Jornal do Brasil. “Meu câncer de tireóide nada tem a ver com cigarro. O motivo foram os sapos que engoli durante a vida”.

Seja ou não causado por sapo, o câncer não a fez abandonar o cigarro, e a doença a levou um ano depois. Tive amigo de redação que trabalhava com copos de leite e cinzeiro, lado a lado. Morreu sem estômago. Foi cirurgia de moda. Transformavam o esôfago num estômago estepe. Meu colega de ECA, Cao, fumante inveterado, viveu por mais de um ano dessa forma, numa cama de hospital. Também se foi antes dos 60.

Perry pertenceu a outra geração. Em sua autobiografia, deixou registrada sua dependência de Fentanyl, Oxicodon e todas as parafernálias que acompanham o vício em qualquer muleta. O rapaz teve o cólon explodido num desses episódios. Não vi comentários a respeito de sua vida pela metade, sem família nem nada, na casa cenário em Los Angeles. Apenas adeuzinhos compungidos.

Enquanto isso, os jovens adultos continuam morrendo em praça pública, sem campanhas públicas para erradicar o malefício da vez. Vício, médicos irresponsáveis, depressão ou sapos engolidos à parte, tudo continua igual no século 21.

PEDRAS QUE ROLAM SÃO DIAMANTES

Há dez dias Rolling Stones lançaram durante pocket show em Nova York um novo álbum, o primeiro em duas décadas a trazer composições inéditas.

O álbum chama-se “Hackney Diamonds”, referência ao brilho de cacos de vidro no chão após assalto num bairro hoje violento em Londres. No passado, por ali circulavam os criadores da banda, Jagger e o guitarrista Keith Richards.

À parte de ironias relativas ao tamanho feminino 00 de Mick Jagger, indefectível aos 80 anos, e a exuberância costumeira de Keith Richards, dedilhando aos 79 em seda roxa e anéis, a apresentação parece ter sido um sucesso relativo, nada intergaláctico ou fabricado, como o longa da cantora Taylor Swift nos cinemas.

Confesso ter acreditado que a morte em 2021 de Charlie Watts, o baterista de longa data e silenciosamente virtuoso da banda, teria sido a última notícia dos Stones.

Em seu lugar esteve Steve Jordan, que foi a escolha pessoal de Watts para assumir o comando. Também participaram em NY o baixista Darryl Jones e o tecladista Matt Clifford.

Stones estão há mais de uma década de meu itinerário de fã, mas adorei Jagger em entrevistas no Brasil quando estava prestes a dar um show na praia de Copacabana, no Rio, nos idos de 2006. Ele debochava de si mesmo (dizia que suas medidas 00 só existiam em épocas de turnê) e zombou de seu antípoda na época, Bono Vox, vocalista do U2, também no Brasil (sobre ele, dizia: “Bono está acima do peso, assim não dá para ele levitar, como fazem santos dedicados a causas do bem .”)

De toda forma, há um certo espírito de retrocesso no álbum, em parte à presença mágica dos Stones, mas também soa enraizado no tempo presente, graças em parte à produção de Andrew Watt, de 32 anos. 

Rock n’ roll de primeira linha, talvez pela última vez com as pedras rolantes.

Rolling Stones Blues

Depending on you

Sweet Sounds of Heaven (com Lady Gaga e Stevie Wonder)

HISTÓRIAS DE VIDA, AVENTURA E SUPERAÇÃO

Este ano tive ao menos duas boas surpresas no saguão do prédio conhecido como Tijolinho, onde moro e local onde vivem os autores das surpresas.

Primeiro, ganhei da minha vizinha Jussara Corrêa o livro em que narra suas memórias recentes, Na Mochila da Zhu – Viagens, Aventuras, Escolhas (Ofício das Palavras). A mandala desenhada acima é uma das ilustrações do livro, todas da própria Zhu.

Zhu é como a Ju da porta ao lado era conhecida na China. O livro narra sua vida de andanças pela Tailândia, Maringá, China, Santos, Coréia, França.

Da prática de ioga a aventuras em Shangai, Zhu nos leva com ela e conta o que aprendeu ao trabalhar e viver entre asiáticos em viagens periódicas por cinco anos, até ser interrompida pela pandemia em 2020.

Entre as coisas que aprendi, está o número “1314”, que significa “para sempre”, como ela contou. Zhu é designer industrial, e trabalha com estamparia de tecidos. Daí suas viagens para formar parcerias e intercâmbios.

Recentemente, outro vizinho lançou uma autobiografia não-convencional: trata-se do neurologista Wilson Luiz Sanvito, que publicou “O Meu Reencontro com o Passado: Recuperação de Memórias Essenciais” (Editora dos Editores).

Doutor Sanvito, como é conhecido, vai a pé diariamente até seu trabalho no Hospital Santa Casa. Além de seu trabalho como médico, foi por mais de 40 anos professor titular da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, atualmente livre-docente e Professor Emérito da mesma instituição.

Seu livro atual é uma reunião pouco ortodoxa de suas impressões como cidadão, médico e educador durante 86 anos de vida no interior (que ele chama de “Brasil profundo”), capital e exterior. Além disso, reúne textos vários, escritos entre mais de 200 trabalhos científicos e 20 livros publicados.

Impressiona muito a dimensão catastrófica que Sanvito atribui à influência mundial do que ele chama “complexo médico-industrial”.

Coloca no mesmo patamar laboratórios farmacêuticos e a indústria militar, os dois corresponsáveis da dissolução do equilíbrio humano, a nível individual e global.

Sanvito fala do alto de quase um século de experiência na observação a fundo de nós, que trocamos nossa saúde e decência por qualquer ilusão de conforto ou alívio. Saúde, bem-estar e conhecimento não se compram em farmácia ou outro lugar.

São objetivos que não têm preço.

DECIFRAR A BELEZA DOS DOCUMENTOS

Encontros memoráveis são raros e muitas vezes passam despercebidos quando acontecem. Precisa estar atento para ouvir e perceber tudo em volta.

Hoje identifico quais foram, nem sempre com pessoas que ocupavam postos de destaque, mas sempre aqueles que enchem a cabeça e o coração da gente pra sempre. Este é um texto de vários capítulos. Aqui vai o primeiro.

No início dos anos 2000, aconteceu comigo o encontro com dr. Humberto Torloni (1924-2017) . Eu integrava um grupo com a intenção de escrever a história da gênese e crescimento Hospital A.C. Camargo, especializado no combate ao câncer.

Acontece que a fantástica história da criação da entidade estava, desde seus primórdios, ligada ao médico que se transformaria em referência mundial na classificação te tumores.

Com seu charuto, sua simplicidade, sua inesgotável capacidade de trabalho, dr. Torloni organizou o Departamento de Anatomia Patológica do A.C. Camargo.

O trabalho era primoroso, de forma que, em 1962, Torloni deixou a direção do a direção do departamento de Anatomia Patológica do A.C. Camargo, mudou-se para Genebra, onde coordenou este trabalho na Organização Mundial da Saúde (OMS).

Décadas mais tarde, depois de trabalhar em Genebra, Nova York e Brasília, encontrei o dr. Torloni sentado numa cadeira da Biblioteca do A. C. Camargo, subsolo do prédio.

Um dos seus trabalhos em relação ao projeto, na ocasião, era detectar entre milhares de prontuários de pacientes, aqueles que sobreviveram aos tipos de doenças de difícil tratamento.

Sua ideia então não era estatística, mas apenas criar relatos gentis e acolhedores àqueles que enfrentassem o fantasma de estatísticas contrárias. Entre os prontuários, dr. Torloni buscava os pacientes que retornavam ao hospital para triagem de rotina. Entre estes, foram separados aqueles que voltaram depois de cinco, dez, quinze ou até vinte anos.

Foi um desses prontuários que me levou a uma história de sobrevida bonita de ouvir. Os relatos nunca acabaram em livro. Infelizmente, o projeto desandou. Mas a história não me sai da cabeça, por ser cercada de simplicidade e coincidências. Talvez seja melhor contar.

Vamos dizer que meu ex paciente chamasse Antonio, e viesse da zona rural do interior de São Paulo. Durante a adolescência, desenvolveu na perna direita um osteossarcoma, tumor ósseo de difícil tratamento e cura nos anos 1970.

Procurou o hospital quando a perna já estava arroxeada, inchada, e ele com muita dor. Antonio contou:

“Quando o médico me falou sobre amputação, na época, senti alívio, eu confesso. Aquela parte do meu corpo não tinha mais função, só causava dor. Lembrei da minha infância. Quando criança, na chácara, nossa casa era cercada de arame farpado. Um dia, durante uma trovoada, eu, a mãe, o pai e meus irmãos desmaiamos com um raio. Quando acordei, meu pai lá, no chão, morto. O corpo dele inteiro roxo, igual minha perna ficou, anos depois.

Já adulto, uma década mais tarde, Antonio veio tentar a vida em São Paulo. Uma tremenda tempestade, daquelas que só aqui, despontando ali na rua, e ele sozinho de prótese, num ponto de ônibus, sem poder correr pra lado nenhum.

“Sei lá de onde, mas apareceu um guarda-chuva me cobrindo. Era ela, a mulher com quem eu casei. Porque eu tive esse câncer e sobrevivi tantos anos eu não sei. Acho que devia perguntar pra ela.”

Qual a relação entre o pai morto, uma perna com a mesma aparência morta, uma tempestade na infância e outra na fase adulta, como fatores marcantes na vida? Sabe-se lá. Mas que é fantástico, para quem assim enxerga a vida, digamos que sim.

Saudade do doutor Torloni, capaz de enxergar a beleza escondida por trás de pilhas de prontuários e lâminas de laboratório.

DÊ AO MOUSSE EFEITO SOUFLAIR

Deu vontade de comer. Esta mousse tem uma textura particularmente aerada, é feita com chocolate amargo. Por isso, não é muito doce, embora a textura prometida compense. A receita foi copiada do jornal The New York Times.

Rendimento: 8 a 10 porções

INGREDIENTES

• ½ xícara/120 gramas de creme de leite, e mais se necessário e para servir, se desejar

• 340 gramas de chocolate amargo, grosseiramente quebrado ou picado (ver Dica)

• 8 claras de ovos grandes (265 gramas/1 xícara)

• ¼ xícara/50 gramas de açúcar granulado

• 4 gemas grandes (56 gramas)

• 1 colher de chá de extrato de baunilha puro

PREPARO

Antes de tudo, vai a dica: use chocolate próprio para comer ou fazer confeitos, não chocolate em pó de supermercado, que tem uma proporção maior de sólidos de cacau e resulta em uma mousse densa e possivelmente arenosa. Chocolate com 70% a 74% de cacau é o ideal, mas escolha o seu favorito.

  1. Leve um pouco de água para ferver em uma panela média. Combine o creme e o chocolate em uma tigela grande resistente ao calor. Quando a água ferver, abaixe o fogo para que a água esteja quase fervendo ou apenas fumegando. Coloque a tigela sobre a panela e derreta o chocolate, mexendo delicadamente com um batedor de arame de vez em quando.
  2. Enquanto o chocolate derrete, bata as claras em uma tigela limpa usando uma batedeira em velocidade média. Quando as claras estiverem espumosas, adicione o açúcar em um fluxo lento enquanto bate. Continue batendo até formar picos firmes. As claras devem parecer brilhantes, mas não secas e, quando você levantar o batedor da mistura, um pico deve se formar na tigela e segurar.
  3. Assim que o chocolate derreter completamente, desligue o fogo, mas deixe a tigela sobre a panela. Segurando a tigela com um pano de prato, adicione as gemas uma a uma, batendo a cada adição. Se a mistura parecer quebrada, retire a tigela da panela, deixe esfriar por um minuto e adicione 1 colher de sopa de creme de leite e bata apenas até ficar brilhante e homogêneo. Bata a baunilha. (Não se preocupe se ainda não parecer completamente liso. Ele se juntará na próxima etapa.
  4. Adicione um quarto das claras batidas à mistura de chocolate e mexa delicadamente com uma espátula de borracha flexível até incorporar, mas deixe ainda um pouco entremeado. Isso facilitará a incorporação das claras restantes para criar uma mousse aerada, diminuindo gradualmente a temperatura do chocolate e soltando a mistura.

5.Adicione o restante das claras e dobre-as passando a espátula como se fosse o ponteiro de um relógio, das 12 horas até as 6 horas, depois pegando o chocolate no fundo e dobrando-o suavemente sobre as claras, como se a espátula fosse o ponteiro do relógio às 9 h. Gire a tigela 90 graus e repita. Continue nesse movimento até que a última faixa branca desapareça. Tudo bem se sobrarem alguns pedaços de brancos. É melhor não esvaziar a massa remexendo demais.

6.Coloque em uma tigela bonita ou em xícaras ou tigelas individuais para servir, se desejar. Caso contrário, guarde-o na tigela da batedeira. Leve à geladeira a mousse descoberta até esfriar, cubra e leve à geladeira por pelo menos mais 4 horas e de preferência 24h. A mousse coberta pode ser refrigerada por até 5 dias.

7.Se quiser servir a mousse com chantilly, bata o creme de leite até formar picos moles. Uma ou duas xícaras de creme de leite são suficientes para essa quantidade de mousse. Sirva a mousse fria, direto da geladeira, com o chantilly.

BARBIE: A FARSA DA BONECA ADOLESCENTE

Quando entrei na universidade, nos anos 1980 do século 20, descobri que meus personagens preferidos na infância – Pato Donald, Mickey, Pluto – eram tratados como agentes do imperialismo, e era preciso exorcizar qualquer ícone da chamada “indústria cultural”, expressão usada por intelectuais no final do século 20 para desbaratar aquilo que crescemos amando, como os desenhos Disney ou, por que não, figuras como a boneca Barbie)

Quase meio século depois, a turma jogou para o alto qualquer pudor em sair do armário como “Barbie lover” e transformou em sucesso o lançamento de “Barbie” (veja aqui o trailer), a bobagem que eclipsou outro longa, “Oppenheimer”, dirigido por Christopher Nolan, produtor, roteirista e criador de mais de cem filmes bem sucedidos. Veja aqui o trailer de Oppenheimer.

Tá certo que não é assim difícil derrubar assunto tão chato e batido quanto a criação da bomba atômica, em Nova York, por um cientista oriundo do governo nazista alemão. Mas a Barbie tampouco é sinônimo de modernidade, com minissaias 60’s e saltos plásticos discotheque.

Ok, foi jogada de mestre colocar no papel do namorado de Barbie, Ken, o astro loirão da vez, Ryan Gosling. Aliás, apesar de canadense, Gosling é o tipo de ator de face inexpressiva incensado pelo público norte-americano, como Marlon Brando (1924-2004) ou Clint Eastwood (1930). Sobre o último, rola até uma piada: “Clint tem duas expressões: com ou sem chapéu”.

Só que Barbie não é Mickey

Engana-se quem coloca tudo na mesma caixa – tipo guardar brinquedos de criança. Uma coisa é querer demonizar um personagem desenhado pelo artista Walt Disney e que hoje é um símbolo do capitalismo.

Esse marketing acaba colocando Barbie no altar pop da infância dos anos 60, cenário tão repleto de imagens que nos deixa extasiados.

Só que Barbie jamais foi um símbolo infantil. Trata-se do primeiro brinquedo sexuado da história humana, criado sob falsificação por uma dona de casa branca norte- americana.

Uma entre dez filhas de um casal de imigrantes poloneses criada em Denver (Colorado), Ruth Handler apresentou em 1956 a seu marido e parceiro de negócios da empresa Mattel três exemplares de um objeto encontrado em viagem de férias na Suiça. Nos EUA, três anos depois, surgiria Barbie, a boneca batizada com o nome de sua filha Bárbara. No entanto, a precursora nada tinha de inocente.

Ao procurar ideias para ocupar um espaço do jornal Bild-Zeitung em 1952, o cartunista Reinhard Beuthien desenhou uma personagem incomum. Com um espírito livre e desinibido, a Bild Lilli trabalhava como secretária, mas às vezes se relacionava com homens mais velhos por dinheiro. 

As tiras de Bild Lilli no jornal Bild-Zeitung

Não demorou para que Lilli se tornasse um ícone. A boneca deixou de existir apenas nos jornais. Uma versão de plástico com cabelo loiro platinado, olhos azuis, seios grandes e um batom vermelho provocante, ela passou a ocupar as prateleiras de tabacarias, bares adultos e sex shops. A boneca Lili chegou a ser distribuída como brinde a novos assinantes, notadamente público adulto.

A versão em plástico de Lilli, personagem de cartoon

Apenas em 1978 Ruth Handler (1916-2002) foi finalmente condenada por fraude na concepção do brinquedo Barbie, tendo que pagar uma multa e prestar serviços comunitários. No fim da vida, trabalhou em campanhas de conscientização feminina. Morreu de complicações pós-operatórias para a retirada de um câncer no cólon.

Então, qualquer paixão mercurial e insensata pela imagem de Barbie nada tem a ver com apelos infantis. Nem a Barbie do filme é criança: a loira dirige um conversível anos 60 e sonha acelerar numa auto estrada, como qualquer adolescente.

IA PODERÁ SER INFERNO DE ALUCINAÇÕES

Em um futuro próximo, podemos ser reféns de versões terríveis e alucinatórias de imagens criadas por nós no passado. Enredo não falta.

Vejam aqui o anúncio da Telekom alemã que eu encontrei traduzido no Twitter de Glória Perez, autora que eu sigo porque sou fã de suas novelas de TV.

Nos EUA e continente europeu os governos estão cercando empresas que lideram pesquisas na área de inteligência artificial, com intuito de regular o setor.

Talvez seja tarde demais. Duvido que não existam centenas de milhares de imagens de gerações humanas arquivadas na “nuvem”. O nome é fantasmagórico, mas vem a calhar.

Imagine as imagens embaralhadas num coquetel dos aplicativos de IA? Uau, nem pensar. Uma das notícias da vez é que em algum lugar, entre quase 8 bilhões de humanos, existe um ser idêntico a você andando por aí. Sei lá de onde saiu isso, se em laboratórios de genética, cálculos estatísticos ou acervos públicos de imagem. Vi até no Fantástico (TV Globo).

Ficou curioso? Melhor não…

MONARCAS HERDARÃO A TERRA?

New York Times publicou há pouco mais de uma semana (junho, 2023) uma notícia prosaica que eu notei e vou contar o motivo: desde a pandemia me impressionam os textos sobre extinção de espécies, aquecimento global e outros indícios de que a vida no planeta vai mal.

Enfim, pesquisadores descobriram detalhes que fazem a diferença entre as borboletas-monarca, que embarcam em uma das maiores jornadas da natureza. Esses insetos voam mais de 2.000 milhas de suas casas de verão no Canadá até as montanhas do centro do México. Apenas cerca de 30% sobrevivem à viagem. Entre as que sobrevivem, há uma característica compartilhada nas borboletas aptas: as bordas de suas asas tendem a ser ligeiramente mais irregulares.

Enfim. A competência da vida em garantir continuidade desafia todos os esforços dos humanoides trogloditas em destruir seus opositores, reais ou imaginários. Não precisa nem ser vida. Veja o Covid, uma membrana de ácido nucleico dá cabo de parcelas da humanidade.

Por esta e por outras, eu adoro o NYT. Saibam que é um dos poucos jornais do planeta que vai bem financeiramente. Parei de pensar nos motivos faz tempo.

O que eu sei como leitora atualmente único veículo que me traz delicadezas desse tipo sobre a vida. Sei lá se é insano, mas a cada ano se repetem notícias horrendas sobre aquecimento global etc.

Tenho uma suspeita: talvez sejamos um capítulo na história da vida na Terra, e estamos no fim do livro. Presunção pensar que o nosso ocaso seja o fim da vida. Tomara que as flores, árvores e borboletas maratonistas sobrevivam aos homens tal como são.

Há dez anos, eu tive um surto psicótico. Num dos meus delírios, a ideia de não encontrar vida em outros planetas era um desvio da nossa percepção na Terra. Vivíamos em uma espécie de desterro, até um dia atingirmos a capacidade de enxergar a vida. Então o céu acenderia.

Caramba. Sei lá.

Abaixo vai um texto que escrevi durante a pandemia. Trocando o incêndio europeu pelo Canadá, e as previsões mais recentes sobre a muralha de água que especialistas prevêem na Califórnia (EUA), nada mudou.

O assunto dessa semana deveria ser a onda de calor no verão europeu, e os incêndios que devastam áreas da França, Espanha e Portugal. Incrível a capacidade de adaptação humana ao terror: basta assistir a cara surpresa e meio risonha dos entrevistados à beira do rio Tejo, em Portugal, comentando o “calor atípico”.

Cem milhões de americanos do Arizona a Boston estão sob alertas de emergência de calor, e a seca no oeste está se aproximando das proporções do efeito Dust Bowl (taça de pó), enormes tempestades de areia que se estenderam na década de 30 do século passados nas planícies centrais dos EUA. Eram chamadas de “vento negro” e se estenderam por dez anos, resultado de manejo errado do solo.

Por outro lado, reservatórios da costa oeste norte-americana estão secando rapidamente. Também a China no verão registrou temperaturas próximas a 50 graus Celsius. Da mesma forma, o Reino Unido declarou uma emergência nacional quando as temperaturas subiram acima de 40 graus Celsius e partes da Europa estão em chamas.

Enquanto isso, no Congresso norte-americano esta semana, os republicanos alertaram contra ações precipitadas em resposta ao planeta em chamas. Evitam prejudicar a produção local de petróleo. Mas foi um senador democrata, Joe Manchin III, da Virgínia Ocidental, que bloqueou na semana passada o que seria uma ação decisiva para enfrentar o aquecimento planetário. Precipitação?

Sabe o quê? Dane-se.

Já viu -coisa mais linda- a borboleta acima? Pois é, entrou na lista de animais ameaçados de extinção. Motivo: destruição de habitat e fim das correntes migratórias.

Essa bichinha marrom parece uma borboletinha brasileira, mas não. Trata-se da borboleta monarca da América do Norte, cuja aparência vistosa e migração extraordinária a tornaram um dos insetos mais queridos do continente (vivem também no México), foi classificada como ameaçada pela União Internacional para a Conservação da Natureza, a autoridade científica mais abrangente do mundo sobre o status das espécies.

A decisão vem depois de décadas de queda nas populações devido a perdas nas plantas de que precisam como lagartas e nas florestas onde os adultos passam o inverno, combinadas com as mudanças climáticas, segundo a avaliação. Os autores revisaram cerca de cem estudos, entrevistaram especialistas e aplicaram critérios da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas do grupo para chegar a uma decisão.

As monarcas nascem nos EUA e migram para o Sul, para o santuário da Reserva da Biosfera Mariposa Monarca no Estado mexicano de Michoacán. Essas borboletas se reúnem em colônias agrupando-se em pinheiros e árvores coníferas.

Pungente pensar que a morte está tão próxima de animais tão frágeis. Borboletas vivem 24 horas. Um dia apenas. Pode parecer pouco, mas é o suficiente! Elas experimentam flores com seus pés, se alimentam, copulam, procriam e morrem pacificamente. Em apenas 24h, esse inseto sai de seu casulo, vive intensamente e morre de causas naturais.

Quando uma borboleta aparece, tudo em volta se transforma. As crianças percebem. Ver uma borboleta em casa ou na natureza pode ser um sinal de transformação, uma vez que essa pequena criatura é um dos seres que melhor representa o ato de se renovar. Por essa razão, o privilégio de observar um animal do tipo é a oportunidade de refletir sobre a mensagem espiritual acerca da transformação.

É tanta delicadeza, que borboletas são tratadas como mensageiros espirituais Os anjos comunicam-se frequentemente conosco através das borboletas. Quando uma borboleta aparece em seu meio, pode ser o seu anjo da guarda ou espírito guia enviando-lhe um sinal. É difícil ignorar a presença de uma borboleta, então, considere isso como um comunicado importante.

No jardim do prédio as borboletas desapareceram. Vêm em busca de flores, que já foram embora há um ano. Prenúncio de dias piores. Em todos os quintais.