ONDE FICA E COMO SURGIU ESTE EDIFÍCIO

O Condomínio São Vicente ocupa área de 3.466 metros quadrados (175 construída), código do logradouro 19635-5, no bairro de Santa Cecília, subdistrito da Consolação. O que isso significa?

Para quem se coloca em frente ao prédio, de costas para casa, diante da rua e do mundo:

à esquerda – fica pouco mais de um quarteirão abaixo da avenida Higienópolis, onde começa o bairro de mesmo nome, daquela avenida até a Paulista;

à direita – vai até alameda Nothman, por onde começa o bairro de Campos Elíseos, perto também do Bom Retiro, originalmente reduto dos judeus fugidos da Europa pós-guerras;

em frente – até rua Tupi, divisa com o bairro do Pacaembu;

atrás – até a rua da Consolação, divisa com a região central da cidade.

Não sei como está em outras grandes cidades. Em SP, este metro quadrado é taxado a valores irrisórios em relação à infraestrutura. Em outras palavras, vale dizer que atualmente moramos em Higienópolis, embora paguemos IPTU de Santa Cecilia.                                   

Corte para os anos 1940. Nessa década, foi criado o fundo responsável pela arrecadação de verba para a compra de terreno e construção de nosso prédio. Era um fundo sindical de funcionários públicos.

Higienópolis, ao lado, era então um bairro formado por casarões – não como os casarões da Paulista, mas um arremedo destes, para classe média ascendente que sonhava com o status dos barões do café.

A região era alta, cercada de hospitais – o Asilo dos Tuberculosos (hoje Colégio Sion), Samaritano, Mackenzie, Santa Casa da Misericórdia.

Nesse contexto, uma cooperativa de funcionários públicos comprou um caro terreno em Santa Cecília para construir moradia para seus associados. Veja que naquele tempo não existia saúde pública. Mas tanto a saúde, como o bem-estar geral estava a cargo dos sindicatos. Assim era no México, Argentina, Brasil. Hoje em dia, não sei como está no México e Argentina.

Na segunda metade dos anos 1940, o fundo adquiriu o terreno conhecido como “sítio da fonte”, de onde jorrava água límpida (hoje escondida no poço sob o subsolo do bloco que habito, e que era potável até menos de uma década atrás). O fundo constituiu verba para iniciar a construção, pronta em 1949.

O arquiteto responsável pela obra foi o judeu polonês  Lucjan Korngold   (1905-1963), que em São Paulo construiu belos edifícios a baixo custo, como o Edifício Chopin, já nos anos 1960, na rua Rio de Janeiro, em Higienópolis.

A fachada econômica tem de tijolo laminado a placas de Eternit – um arranjo considerado original até os dias de hoje. Uma pedra fina -aerolite- reveste os pilares da entrada.  A construção resultou econômica demais, e sobrou dinheiro. Conta a história que Korngold convenceu os condôminos a comprar uma obra de arte, conjunto de duas esculturas.

As esculturas do saguão são de Bruno Giorgi

As esculturas estão até hoje sob o vão livre de nosso prédio. Saibam que já estive em reuniões de condomínio em que ouvi sugestão para “que fossem vendidas, já que não servem para nada”.

Para quem não sabe, Bruno Giorgi (1905-1993) é o escultor de vários monumentos célebres em Brasília, como “Os Guerreiros” (1959), popularmente conhecida como Os Candangos, estátua que está na Praça dos Três Poderes, em Brasília

Este edifício é originalmente composto de apartamentos com ou sem sacada, de três ou dois dormitórios, o que é raro na região, onde os edifícios são dinossauros imensos sem área comum habitável, como é de praxe nos cenários urbanos do final de século 20 no Brasil.

 Originalmente, o nosso edifício não tinha grades altas de ferro sobre os muros, e o saguão era praça  muito admirada no bairro.As inovações sugiram depois, para dar segurança aos moradores, e consistem nas duas guaritas e inúmeras garagens, embora o espaço no subsolo sempre tenha existido.

As inovações sugiram depois, para dar segurança aos moradores, e consistem nas duas guaritas e inúmeras garagens, embora o espaço no subsolo sempre tenha existido.

O fundo de pensão se assemelha aos arranjos de imigrantes da virada do século. Por exemplo, no Bom Retiro, ninguém operava com dinheiro vivo. Assim, o crédito era mais fácil.

Os tijolos aparentes também remontam aos prédios de baixo custo nas áreas periféricas de Nova York e Londres.

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