MISTÉRIOS FORA DO ALCANCE

ESCREVI O TEXTO ABAIXO TRÊS SEMANAS ATRÁS. EM SEGUIDA, TIREI DO AR. ACHEI BIZARRO, SEM SENTIDO. HOJE RELI E ACHEI NEM TANTO.

Desde que comecei a escrever este blog, durante a pandemia, nunca faltou assunto. Lá se vão três anos.

Notícias sim, mas por vezes um acontecimento ultrapassa o limite do real e deixa a gente assim, vazio.

Trata-se da implosão do submarino Titan, que estava a meio caminho para o abismo de 3.800 metros de profundidade sob o Atlântico norte, em alto-mar mas já próximo da costa do Canadá.

Para quem desconhece, ali está o navio Titanic, que naufragou em 1912, causou cerca de 1500 mortes e já foi exaustivamente mostrado em telas, desde que o cineasta James Cameron produziu o segundo longa sob o assunto, em 1997.

Se alguém não assistiu Titanic, saiba que o filme traz cenas inacreditáveis do naufrágio, com candelabros e louças espalhados a 3.800 metros de profundidade. Recentemente, foram liberadas imagens tridimensionais do navio.

Qual seria então o fascínio pela imagem velha conhecida, mas forte o bastante para causar o desaparecimento de Stockton Rush, Hamish Harding, Shahzada e Suleman Dawood e Paul-Henry Nargeolet, todos mortos em decorrência da pressão colossal que “venceu” o revestimento da embarcação?

Dois mortos, um empresário de origem paquistanesa e o filho, Shahzada e Suleman Dawood, nasceram ali perto do Himalaia, mais alta cordilheira e berço das maiores civilizações do nosso planeta. No entanto, foram procurar aventura num abismo gelado no fundo do mar. Pouco importa o motivo.

Interessa é o mistério das imagens diante dos olhos: telas que vemos à nossa frente mas que representam mistérios além, produzidos graças a experiências alheias, que jamais serão nossas.

E de pensar que um dia escrevi minha tese de Mestrado sobre as telas -as que buscamos como sonho ou realidade e que nos enganam (telas nunca são reais, eu defendo. São produtos tecnológicos.)

Usei como exemplo das chamadas telas as fotografias feitas por equipes de jornais na cobertura de hotéis na Praça Tahrir, no Cairo (Egito), berço dos protestos da Primavera Árabe, em 2011.

Minha tese é que boa parte dos protestos teve suas dimensões ampliadas pela grande angular, objeto entre repórteres e militantes, que distorcia através da imagem o alcance, dimensão e expressividade dos últimos. Como resultado, os protestos geraram grande número de mortos. De resto, a longo prazo, houve aumento expressivo de refugiados, crises políticas e conflitos internos, como guerras civis.

Claro que assim parece simples, mas eu usei argumentos estrambólicos, que remetem à perspectiva renascentista etc e tal. Citei Benjamin, as teses de reprodutibilidade da escola de Frankfurt, nem lembro mais.

Soube há pouco que a animação da implosão do pequeno submarino Titan no Tik Tok teve mais de 44 milhões de visualizações. Eu achei esta animação do Estadão mais informativa. Não reproduz, infelizmente, a sensação de implodir sob o peso do oceano inteiro sobre sua cabeça.

Existem mistérios inegociáveis, acredito, em todo o Universo.